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A persistência da violência contra LGBTs

Por Gustavo Henrique Thomaz Ramos*

Tem se tornado muito frequente a realização de chás de revelação de sexo de bebês. Casais reúnem família e amigos e, de um jeito criativo, revelam aos convidados se seu bebê será menino ou menina. Nessas festas, elementos sociais associados aos gêneros masculinos e femininos marcam presença, bem como o uso da cor azul para menino e rosa para menina. Enquanto tais celebrações possam parecer inocentes, é necessário ter em vista o que elas representam numa perspectiva ampla: ao realiza-las os pais do bebê não estão apenas anunciando o seu sexo biológico, mas também estão atrelando aquela pessoa, que ainda nem nasceu, a um turbilhão de signos que representam masculino ou feminino em nossa sociedade. Agora, para uma pessoa trans essa associação representa uma grande violência. Essa pessoa terá que lutar sua vida toda para se desvencilhar das amarras a um gênero com um qual não se identifica, e ao qual foi amarrada antes mesmo de nascer. Para gays, lésbicas e bissexuais, a violência causada por essa amarra entre sexo biológico e comportamentos de gênero também é real. Dentro da lógica dessa associação, se você nasce no sexo masculino você deverá se sentir atraído por mulheres, e se você nasce no sexo feminino você deverá se sentir atraída por homens. Logo, por esse viés, geralmente não considera-se a possibilidade de que uma pessoa de um determinado sexo possa se sentir atraída por outra pessoa do mesmo sexo, ou que possa se sentir atraída por ambos os sexos. Essa é uma das violências resultantes da associação entre sexo biológico e comportamentos de gênero para lésbicas, gays e bissexuais, pois afeta a identidade dessas pessoas, e interfere, especificamente, na forma como essas pessoas devem amar outras pessoas. 

Imagem Gráfica. Título do card: 25 de março, dia nacional do orgulho gay. O título encontra-se no centro do card, sobre fundo branco. Nas laterais do card, encontram-se listras onduladas, coloridas nas cores da bandeira de arco-íris. Em cima de uma das listras, tem-se os logos da UFPR, da SIPAD, do NGDS e do NuCA.
Arte: Bia Vieira;
Descrição da imagem: Gustavo Ramos.

A violência contra LGBTs começa, portanto, antes mesmo dessas pessoas nascerem, e se perpetua ao longo de suas vidas. LGBTs, muitas vezes (senão na maioria dos casos), têm de viver com violências vindas de suas próprias famílias, que deveriam ser os núcleos de amor e proteção dessas pessoas. Essas violências se manifestam de diversas maneiras, podendo ser extremas, como casos de violência física, ou de expulsão de casa, ou, ainda, estar disfarçadas em comentários como “tudo bem você ser gay, mas seja discreto”, ou “ela é lésbica, porque não encontrou o homem certo ainda”, que muitas vezes se passam por inocentes, mas que LGBTs sabem o quanto doem.  

Nas últimas décadas, a comunidade LGBT tem conquistado vários direitos sociais, como o casamento homossexual, a criminalização da homofobia, o uso do nome social por pessoas trans, entre outros. Entretanto, a conquista dos direitos legais não necessariamente reflete uma sociedade menos preconceituosa ou mais receptiva a população LGBT. Inúmeros preconceitos perduram, sendo, inclusive, comum que alguns grupos sociais, como igrejas e entidades religiosas cristãs, ainda tratem homossexualidade como um desvio ou doença. A Organização Mundial da Saúde removeu a homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, em 1990, e o Conselho Federal de Psicologia determinou sua despatologizou em 1999, ou seja, já fazem mais de 20 anos a nível nacional e mais de 30 a nível internacional, que a associação entre homossexualidade e doença deixou de ter qualquer apoio científico, e mesmo assim essas ideias preconceituosas ainda persistem. 

Hoje, dia 25 de março, é Dia Nacional do Orgulho Gay, que também engloba o orgulho dos outros grupos da sigla. Tendo em vista a persistência da violência contra a população LGBT, numa data como essa, além de celebrarmos o orgulho de sermos o que somos e o que podemos ser, também podemos usar o orgulho como combustível para continuarmos na luta por uma sociedade que não nos imponha violências antes de nascermos e no decorrer de nossas vidas, e onde nossos direitos sejam respeitados e possamos viver plenamente.  

Nota: não confundir o Dia Nacional do Orgulho Gay, com o Dia Internacional do Orgulho Gay, que é celebrado em 28 de junho.  

*Gustavo Henrique Thomaz Ramos é bolsista do NuCA/SIPAD e estudante de Letras Português e Inglês na UFPR.

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