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Pesquisa sobre transmasculinidade é defendida por homem trans na UFPR

Por: Victoria S. Rodrigues

No dia 29 de Abril de 2020 Matheo Bernardino defendeu a dissertação de mestrado intitulada “SER-TRANS: TRANSMASCULINIDADE E CORPOREIDADE EM SITUAÇÃO”, sob a orientação da professora Joanneliese de Lucas Freitas (UFPR) . Esta é a primeira dissertação de Psicologia defendida por um homem trans na UFPR e no Brasil. Bernardino é pesquisador do programa de mestrado em Psicologia Clínica da Universidade Federal do Paraná, com ênfase no estudo dos fenômenos da transgeneridade, transmasculinidade e corporeidade.
Nascido em Ituporanga, município de Santa Catarina, Matheo conta que desde a infância não se identificou com os grupos de meninas e não era aceito no de meninos. Embora se sentisse e se comportado como menino. Em seus cadernos de infância, Paulinho era o nome que escrevia e como se identificava. Essa foi uma primeira percepção do que seria uma jornada rumo ao autoconhecimento e identificação. O distanciamento de colegas por não se sentir confortável e não ser aceito era de regra o que acontecia no seu dia-a-dia escolar.

Fotografia colorida de Matheo Bernardino. Matheo está centralizado, tem cabelo encaracolado e loiro, é branco, está com uma camisa verde musgo e sorri para a foto. Matheo usa barba e tem olhos verdes. No fundo, uma parede amarelada e um arbusto na parte inferior esquerda.

Na puberdade, as mudanças corporais advindas com esse período continuavam a causar desconforto, que até hoje é lembrado como um momento difícil. O espelho o lembrava constantemente do corpo que não se identificava. Em seu coração, o que Matheo desejava era um corpo masculino e, por muito tempo, as roupas encobriram o seu corpo.
Aos 16 anos, teve a primeira atitude em busca da aparência que desejava e que estava alinhada a sua identidade: um corte de cabelo mais curto, inspirado por seu primo.
Aos 17 anos, Matheo mudou para Curitiba para cursar Psicologia e viveu seu primeiro relacionamento com uma mulher, que lhe ensinou sobre a transgeneridade. Ele se identificou por completo, pois, até então era lido como uma “lésbica masculina”, como descreveu. Nesse período (2013), teve contato com uma pessoa transmasculina que o apresentou a uma terapeuta especializada e pode dar continuidade ao seu processo de autoconhecimento e, também, iniciar as intervenções que desejava em seu corpo.
No início da transição, a graduação foi pausada. A Pontifícia Universidade Católica, onde ele estudava, não possuía uma normativa para retificação do nome social. Entretanto, Matheo ainda estava muito sensibilizado emocionalmente para travar a luta pelo nome social e optou por transferir seu curso para a FAE Centro Universitário, onde essa normativa já estava em vigor. Na faculdade, apenas o corpo docente sabia de sua situação, e embora desejasse fazer algo pela comunidade trans, sentia-se inseguro em expor sua identidade, considerando a violência que incide sobre a existência trans.

Em 2018 concluiu a Graduação em Psicologia e iniciou o mestrado. O objetivo de sua pesquisa foi o de compreender a experiência de transmasculidade, especificamente da corporeidade transmasculina e binária. Na pesquisa adotou o método fenomenológico, que o permitiu colocar-se no centro da pesquisa, que conta com a experiência de mais 5 pessoas transmasculinas.
Inicialmente a apresentação estava marcada para o dia 19 de abril, mas por conta da pandemia, a data foi adiada. A ideia era reunir a comunidade para participar da apresentação. Com o cenário incerto, optou-se por ser feita virtualmente, o que não fez com que deixasse de ser prestigiada, visto que foi  assistida por quase 50, para a alegria do pesquisador.
Hoje, com o título de mestre em Psicologia, Matheo diz que o processo foi intenso e incrível, pois a pesquisa foi feita de um modo sensível e por ter vivenciado e compartilhado com seus pares a experiência de ser homem trans. A insegurança em relação à exposição de sua identidade e o risco de sofrer violência diminuiu. Atualmente, o pesquisador tem atuado politicamente e contribuído com a comunidade, tanto na academia quanto na Psicologia Clínica. E tem realizado trabalhos voluntários no Transgrupo Marcela Prado, onde atende diretamente o público trans, além de participar de outros coletivos transmasculinos.
Matheo é um pioneiro no campo de estudos fenomenológicos sobre transgeneridade, honra que carrega com orgulho e responsabilidade.

Supervisão: Judit Gomes

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