Por Mateus Camilo dos Santos*
21 de março de 1960. Sharpeville, África do Sul. Uma passeata pacífica reclamava e demandava o abandono da caderneta na qual listava-se os lugares onde a população poderia ir, onde ela poderia estar, sua cor, etnia e profissão. Claro, essa caderneta era usada apenas para a população de pele retinta. Conhecida como Lei do Passe, ela era uma das muitas ferramentas que haviam sido criadas para regularizar e estatizar a segregação e o racismo no regime do apartheid.
Mais de 20 mil sul-africanos andavam pacificamente pelas ruas de Sharpeville sem o documento e desarmados, como forma de protesto. O objetivo era a prisão de todos ali envolvidos, o que resultaria no caos da administração pública local, pela quantidade de participantes do ato presos. O inesperado foi a ação dos policiais, que decidiram abrir fogo contra os manifestantes: 69 mortes e 186 feridos.
Desde então, a mídia internacional focou nos acontecimentos do apartheid. Manifestações ocorreram por toda a África do Sul como forma de revolta. Esse regime racista e segregacionista só teve seu fim em 1994 após inúmeros anos de lutas, protestos, violências e dor. Em memória às vítimas do massacre, a ONU reconheceu o dia 21 de março como Dia Internacional contra a Discriminação Racial.
Mas não é pela proclamação da ONU e nem pelo fim do regime do apartheid que a discriminação deu um passo para trás.
Atualmente, podemos ver nas grandes mídias, nacionais e internacionais, a movimentação de refugiados ucranianos pelas fronteiras da Europa, e também, grandemente noticiado, a discriminação com as pessoas negras ou aqueles que não possuem feições “europeias”. Elas são barradas, impedidas de fugir da destruição, da guerra e da morte. Trata-se de uma comoção seletiva, onde alguém de olho claro não deveria encontrar desolação: onde a cor de sua pele nunca deveria estar suja por escombros ou sangue e a cor de seus cabelos nunca deveria ficar escura pela fuligem de uma guerra. Nessa comoção seletiva, o entendimento é que o sofrimento não é para pessoas brancas. Ao contrário, para pessoas negras, que fogem da mesma dor, mas não lhes é concedida a paz.
O 21 de março é uma data que nos faz refletir sobre as desigualdades e os preconceitos raciais, e nos mobiliza a lutar por um mundo com maior equidade racial. Devemos nos manter fortes e unidos com nossas diferenças e dores.
*Mateus Camilo dos Santos é graduando em ciências sociais e voluntário no Núcleo de Comunicação (NuCA/SIPAD). Postado e revisado por Gustavo Thomaz Ramos.